Texto de Rosane Queiroz

“Fui assaltada. Pela beleza. Era uma terça-feira luminosa, por volta de 11h. Parei o carro no farol vermelho, com o vidro aberto. Um homem, segurando quatro buquês de rosas na mesma mão se aproximou e, como quem aponta uma arma, ostentou aquele mar de rosas, bem diante do meu nariz. Deu para sentir o perfume. “São lindas!”, comentei.
O farol abriu e segui em frente, com um sorriso. Senti que o vendedor quase me ofereceu um ramalhete de presente, pelo encanto que as flores despertaram em mim. A beleza de algo ou alguém talvez possa ser medida assim, pelo tamanho do impacto e deleite que provoca. A imagem daquelas flores robustas, envoltas em celofane, me acompanhou até em casa.
Ao chegar, o encanto se quebrou. Abri o laptop e, no meu feed de notícias, uma amiga dizia: “Eu não quero ver um homem sendo queimado vivo!”, referindo-se a mais um vídeo-barbárie dos terroristas islâmicos, exibido nas redes sociais naquela semana. Entre o horror e as rosas, lembrei do que tinha ouvido há poucos minutos: “Ver o belo é um treino e uma escolha”, disse o professor Basilio Pawlowicz, filósofo e cofundador da Associação Palas Athena, organização sem fins lucrativos que tem como missão aprimorar a convivência humana por meio da articulação de culturas e de saberes diferentes. Bonito, não?
Professor Basilio, um doce senhor de olhos azuis, sotaque argentino e fala suave, confessa que todos os dias pela manhã se deprime “un poquito” ao ler os jornais. “As feiuras do mundo são mais do que evidentes. Resgatar o belo é uma necessidade imperiosa. Mas onde ele está?”, o filósofo mesmo se pergunta.
Bem-humorado, se declara compadecido com minha dura tarefa de buscar o significado da beleza e traduzi-la em palavras. “A clareza do jornalista é uma gentileza para o leitor. Sem beleza, ninguém lê nada”, ele desafia. “Pergunte a um sapo o que é belo e ele dirá que é sua fêmea. Pergunte a mesma coisa a um filósofo e ele responderá com um imbróglio”, brinca, citando Voltaire. Para sair do “imbróglio”, três parágrafos depois, vamos à beleza que mora na filosofia. Não há como fugir do feio, concordamos eu e o sábio Basilio.

Somos produtos desse tempo, portanto, possuímos as virtudes e defeitos dele. Reconhecer a existência da feiura, e, no entanto, optar bela harmonia (sem se alienar), é um caminho possível. Imagine: “Se alguém lhe oferece um prato de comida estragada, com mau cheiro, o que faz? Vai comer? Você é o resultado daquilo com o que se alimenta. Da qualidade dos pensamentos depende a qualidade da nossa vida. Se nos comprometemos apenas com as fealdades do mundo, enxergando apenas o que há de ruim, também nos tornamos feios, deprimidos, cúmplices dos horrores”, diz o professor. (…)”
Pense nisso e cerque-se do que é belo. Aguce seus sentidos para enxergar aquilo que realmente pode ser capaz de preencher a sua alma e o seu espírito!
Boa semana!
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